terça-feira, 29 de março de 2011

Coomplexo de Garabi inundará 70 mil hectares

As hidrelétricas de Garabi e Panambi (Complexo Garabi), previstas para o trecho do Rio Uruguai na divisa com a Argentina, alagariam uma área de mais de 70mil hectares, maior do que a área prevista para ser inundada por Belo Monte.


Com a usina de Panambi, pelo menos 10% (1.750 ha) do Parque Estadual do Turvo estaria alagado, representando mais de 2 milhões de árvores, quantidade maior do que toda a arborização de Porto Alegre. Isso resultaria numa significante perda de habitat na unidade de conservação florestal mais antiga e importante do Rio Grande do Sul, único local do estado que ainda abriga espécies ameaçadas como a onça, a anta, o tapiti, os araçaris, entre outros.


Região do Parque Estadual do Turvo, na fronteira com o Corredor de Misiones, Argentina.
Além disso, o aumento na largura e profundidade do rio, gerado pelo lago da barragem, poderia dificultar o fluxo gênico entre o RS e a Argentina, onde existe o Maior Corredor da Mata Atlântica de Interior (Misiones – Alto Uruguai) que liga o P. E. do Turvo ao Parque Nacional de Iguaçu. Sabe-se que hoje muitos animais cruzam o Rio Uruguai, principalmente nas épocas em que os níveis estão mais baixos, e que o Corredor de Misiones é uma importante área fonte de biodiversidade para o parque. Portanto, caso houver um impedimento de passagem devido ao grande lago formado, poderá ocorrer um processo chamado de depressão endogâmica (acasalamento entre indivíduos cada vez mais aparentados), acarretando a extinção local de espécies, já que, por terra, o parque está isolado devido à existência de monoculturas de soja.

Outro aspecto seria o comprometimento da fauna de peixes, acarretando na perda de estoques pesqueiros de mais de 3 mil famílias de pescadores (informações do Prof. Dr. Rafael Cruz -UNIPAMPA). Dados do http://www.noagarabi.com.ar informam que aproximadamente 30mil pessoas seriam atingidas somente com a hidrelétrica de Garabi (excluindo Panambi).

As autoridades afirmam que o Salto do Yucumã, uma das Sete Maravilhas do RS, maior salto longitudinal do mundo, não seria alagado pela hidrelétrica. Levando em consideração que a cota máxima do lago da barragem estaria num nível de apenas 4 metros abaixo do Salto, o risco que se corre é muito alto. E mesmo que o Salto do Yucumã não seja totalmente inundado, como afirma o governo, parte dele pode ficar debaixo d’água, já que ele atinge os 12 metros de altura, comprometendo sua beleza cênica.

Jussara Cony teria assumido que perda de parte do Parque Estadual do Turvo, em decorrência da hidrelétrica de Garabi, seria fato irreversível…

Informações locais de Derrubadas (RS) dão conta de que a Secretária Jussara Cony, quando em visita ao Parque Estadual do Turvo, no dia 25 de fevereiro de 2011, manifestou-se como certa a perda de parte da área natural da maior e mais importante unidade de conservação de âmbito estadual, em decorrência da Hidrelétrica de Panambi. Mas teria garantido que “podemos conviver com a geração de energia através de recursos hídricos e preservar a natureza”. Segundo jornal eletrônico de Tenete Portela (http://fpop.com.br/2011/02/portico-no-parque-florestal-do-turvo-tem-investimento-de-1-110-milhoes/), quando esteve ao lado de prefeitos locais anunciando obras na área de visitação desta unidade, próxima ao Salto do Yucumã, teria ”tranqüilizado” a todos, com base nas informações do Ministério de Minas e Energia, que pelo menos o Salto não desapareceria.

A secretária da SEMA teria garantido, entretanto, que a secretaria acompanhará atentamente o andamento dos estudos de impacto ambiental e de finalização do projeto das Hidrelétricas. “No dia 18 de março haverá uma reunião em Buenos Aires e nos faremos presentes. O governador Tarso Genro, a quem represento, me pediu muita atenção a este processo”, disse a Secretária Jussara Cony.

É importante lembrar que os projetos de hidrelétricas do rio Pelotas-Uruguai deveriam obedecer o estudo de Avaliação Ambiental Integrada, exigência do Termo de Compromisso de Barra Grande (ver aqui), finalizado pela UNIPAMPA em 2010, apontando a necessidade de Áreas Livres de Barramentos e que não vê viabilidade de conservação da biodiversidade que sobrou na região com a construção de todos os empreendimentos hidrelétricos previstos pelo PAC.

O Movimento Ambientalista do RS pede moratória, há mais de 10 anos, às hidrelétricas da bacia do rio Uruguai até que se façam os estudos de zoneamento necessários de suas áreas de maior relevância de proteção e de seus impactos socioambientais. Inclusive é fato de que os grandes projetos na bacia do rio Uruguai, na sua quase totalidade, são de 1979, e deveriam ser revistos sob a luz da Constituição (1988), da Convenção da Diversidade Biológica (1992) e das demais leis que protegem a Mata Atlântica (1994, 2006) e as Áreas Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade (MMA, 2007).



Misiones dice: NO A GARABÍ!

Do lado Argentino, na província de Misiones, a população está muito mais atenta e mobilizada contra os impactos desses empreendimentos. Manifestações estão sendo realizadas e em uma semana a campanha coletou mais de 6mil assinaturas, e continua coletando mais!

NO a la represa de Garabí
• Que NO inunden nuestros pueblos
• Que NO enfermen a nuestros hijos
• Que NO nos mientan más
• Que NO destruyan lo que Dios creó
• Que NO nos engañen, ya sabemos lo que es un represa

Mais informações nas páginas:
No a Garabí
Misiones dice: No a Garabí
Río Uruguay Libre
Ya dijimos no
Represa Garabí ¿Sí o No?

Agência Da Hora

segunda-feira, 28 de março de 2011

Prefeitos alertam que Salto do Yucumã já está encoberto por barragens

por Carlos André Echenique — 24/03/2011

Alteração do volume de água no Rio Uruguai ocasionado pelas barragens de Fóz do Chapecó e Itá fazem o nível do rio subir abruptamente em poucas horas. Consórcio da Rota do Yucumã está fazendo abaixo assinado pedindo esclarecimentos do governo federal

Como explorar o turismo do Salto do Yucumã sem o Salto do Yucumã? Durante toda a discussão que ocorreu ontem, em Tenente Portela, durante o 1º Seminário de Turismo da Rota do Yucumã havia uma ameaça velada no ar. A maior atração turística da região pode ser uma lembrança do passado.
Convocado pelo Consórcio Rota do Yucumã que congrega 33 municípios, a iniciativa buscou discutir o ritmo do desenvolvimento da exploração do turismo na região. Além dos prefeitos e secretários, o evento contou com a presença da Secretária Estadual do Turismo, Abgail Pereira. Entre os pronunciamentos de louvor a beleza ao Salto do Yucumã e do Parque Estadual do Turvo, uma área de preservação de 19 mil hectares que abriga as últimas seis onças pintadas do Rio Grande do Sul, havia entre as autoridades a certeza de que muito ainda há a de ser feito para melhorar a infra-estrutura do local e fomentar sua divulgação no país e internacionalmente. Porém, logo após a apresentação da Secretária Estadual de Turismo, quando foi aberta para perguntas do público foi colocada a questão crucial colocada em discussão pelo presidente da Associação dos Vereadores dos Municípios da Região Celeiro (ACAMRECE).
- Estamos muito preocupados com a questão das barragens que já existem e as que estão em projeto para o Rio Uruuguai. Estamos discutindo o turismo, mas a nossa principal atração já está sendo afetada - afirmou Gildo Martens, vereador do município de Derrubadas, onde está a sede do Parquie Estadual do Turvo.
A questão foi estratégicamente evitada pela secretária de Turismo. Abgail Pereira, ressaltou em sua fala de aproximadamente 45 min a sustentabilidade do desenvolvimento que a Rota quer promover, deixando também o seu posicionamento em relação ao respeito das belezas naturais, tema que foi mais energicamente debatido na parta da tarde na mesa de discussões, sem a presença da secretária que foi levada para conhecer o Salto do Yucumã. Mas ela não viu nada. Apesar de um período de mais de três semanas sem chuva nas cabeceiras do Rio Uruguai e de seus principais afluentes, o nível do rio está acima do normal.
A secretária limitou-se a falar da importância do turismo para região e para o estado, porém ressaltou o baixo investimento nessa área, inclusive na secretaria do estado. Outro ponto que Abgail destacou, foi que o grande impulso no turismo a nível de Rio Grande do Sul e Brasil deve ser no “turismo rural”, tão pouco explorado e o que desperta o interesse de turistas da Europa e de outras partes do mundo.
Dispostos a passar para uma cobrança mais efetiva, o prefeito de Derrubadas Almir Josér Bagega encaminhou via Roat do Yucumã um abaixo assinado cobrando explicações sobre problemas que já acontecem hoje em relaçãoi a visibilidade do Salto do Yucumã. Bagega alertou que os guardas parque e os moradores Ribeirinhos do Rio Uruguai relatam que em questão de horas o nível do rio sobe, submergindo o Salto do Yucumã.
- Lançamos um abaixo assinado pedindo explicações sobre o impacto que o Salto do Yucumã vem sofrendo com a construções das barragens. O governo federal diz que não há impacto, mas qualquer um pode ver com seus próprios olhos o impacto que ocorre depois que a barragem de Foz do Chapecó começou a funcionar - alertou Bagega.
O presidente da Rota do Yucumã, Osmar Kuhn também fez uso da palavra para cobrar das autoridades federais mais rigor no cumprimento da legislação ambiental.
- O que propomos é decidir que ritmo e o desenvolvimento que queremos tomar para nossa região! Porque as obras de barragens podem destruir a natureza? Os pequenos tem um tratamento e os grande outro - cobrou Khun.
Especialistas alertam para a necessidade de definição de projetos de longo e médio prazo
O professor Paulo Weissbach, do Instituto Federl Farroupilha em sua palestra foi mais enérgico e direto ao ponto, questionado o poder público e o poder privado em relação a o que realmente se quer e até onde se quer desenvolver a região da Rota do Yucumã. Comparando a potencialidade turística da região as Cataratas do Iguaçú e a Cascata do Caracol, ambos fortes e desenvolvidos pontos turísticos do Sul do país. Levantando as problemáticas o professor sugeriu uma série de ações que deveriam ser discutidas seriamente dentro dos membros da Rota do Yucumã para que o primeiro seminário não fosse em vão, entre elas o planejamento de estratégias dentro da rota, o desenvolvimento dos projetos buscando também procurar esses turistas e também o avaliar se o que encontramos hoje, em 2011, era realmente o que foi planejado no passado. Paulo também colocou a sua visão da missão do evento: “construir compromissos pautados entre poder público, iniciativa privada e de entidades de apoio ao turismo do RS”, além de lançar a projeção Rota do Yucumã 2011/2030, o que deveria se pensar para um período a médio e longo prazo.
O 1º Seminário de Turismo da Rota do Yucumã aconteceu no Clube Recreativo Comercial por uma promoção do Consórcio Rota do Yucuma que congrega 33 municípios, sendo os 21 da região Celeiro mais 12 da Amuplan em parceria com o município de Tenente Portela e Emater-RS e contou com o apoio da Amuceleiro, Amuplan, Corede Celeiro e Acamrece e faz parte do plano de ação da rota do yucumã.

Carlos Dominguez e Fábio Pelinson / Da Hora